quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Fingidor


Tem algo que me convida a escrever faz dias. Isto, para mim, não é algo que se resolve com seguimento de códigos instantâneo ou com fórmulas apreendidas nas séries iniciais. Bem que desejo isso, especialmente quando acontece desta forma: um convite de algo para escrever algo conseqüentemente a alguém. Assim me pouparia de discutir comigo mesmo sentindo falta de uma segunda, ou nesse caso, terceira opinião. Me vejo na situação Eu, Eu mesmo e Alguém... e é exatamente esse último que me sitia para que eu cumpra uma missão. Dar algo meu a outrem. E o que tenho te dou. LEIA! Fácil assim?

Nunca foi fácil conceber qualquer sorte de pensamento em palavras e nem tampouco confiar que estas ajudem a acontecer tal, principalmente quando por escrito. Dito por não dito é comum na vida, mas o escrito por não escrito é impossível, afinal transcende a idéia de mero registro: é documento! Você é testemunha!
Fico pensando como é que nossos alunos se vêem diante desse espelho algoz... sim, por que deve ser assim ou próximo disso no momento da escrita para ele. Ou “finjo tão completamente que chego a fingir que é dor”? Afinal é o ato no qual um (leitor) se projeta no outro (interlocutor) na esperança de configurar uma situação de aceitação entre ambos, uma vez que está para se conceber algo em breve.
Escrever envolve mais complicações do que o que se pensa. E começa, ironicamente bem aí: no pensar. Basta ter um mote para a maquinaria desse departamento anatômico começar fazer um barulho infernal, sem deixar o privilégio de ignorar os momentos que travam por qualquer bobagem. Aí é hora do café com contemplação.

O que é escrever? Como é escrever? Quais as relações certas para dar à luz um texto? Não seria mais prazeroso se não pensássemos nem no antes nem no depois, mas tivéssemos uma entrega absurdamente obscena com as palavras e seus sentidos e estas – nuas – se oferecessem a nós e nos agradecessem depois de vesti-las com a coerência e coesão que julgássemos necessárias? Ou já não fazemos isto e tomamos por ônus a distância da primeira letra e o último ponto final? É provável que eu seja um fingidor... mas no momento só posso contribuir com este benefício. Da Dúvida.

3 comentários:

Pat Vieira disse...

A grande vantagem da dúvida é a de sempre propor novos abismos...

Patrícia Vieira

Josselita disse...

Somos todos fingidores...
Amplexos,
Josselita.

Clotilde disse...

Maravilhoso texto. Escrever realmente é registrar nossos eus.
Na luta com as palavras você é muito feliz. Amei seus textos em geral.

Abraços,

Clotilde